quinta-feira, 28 de setembro de 2017

VONTADE NÃO É DESEJO

     A maioria de nós não tem por hábito a reflexão, exceto pelas necessidades comuns do cotidiano. Não distinguimos o desejo da vontade, e isso é um grande problema. Sem refletir, agimos por impulso e não percebemos que ele  é resultado  do que sentimos.Se, não refletimos o que sentimos, certamente agimos pela emoção.
 Eis aí a resposta :  -vontade: agir de acordo com a reflexão racional;   
                                -desejo: agir por impulso apenas.
   Kant, ilustre filósofo da era moderna,em seu  livro “A Crítica da Razão Pura”, nos contempla com uma profunda análise moral e distintiva de desejo e vontade; e  nos convida à reflexão sobre as nossas escolhas. Estudando-se  ética – no contexto histórico de antropologia sociológica – não impossível antever a influência negativa das sociedades atuais que, através de padrões delimitados na importância da personalidade, vêm modelando a conduta humana de maneira cada vez mais egoísta, reativa e intolerante,  o que influencia  de modo decisivo as nossas escolhas.Desejo é tudo o que emerge do pensamento à ação sem que se possa controlar.É o impulso instintivo, é a avidez pelo prazer das sensações. Vontade é a ação regulada pela razão, o que independe do desejo, ou seja, é o uso da razão para deliberar escolhas. Diferente de desejo, vontade é o saber materializado em conduta. É tudo o que o pensamento produz para se sobrepor aos instintos, a fim de viver melhor. A demarcação entre a vida boa e a vida ruim está no descolamento entre a racionalidade e o impulso de desejo, ou seja, entre a vontade e o desejo. A vontade percebe que, apesar do desejo, é ossível viver na contramão dos instintos. A isso chamamos liberdade, que é a soberania da competência deliberativa sobre as próprias inclinações. Sou livre quando, ao flagrar meus desejos, consigo agir racionalmente, contrariando o que sugerem meus impulsos.A moral não é um vigiar castrador, mas é  um olhar sobre si mesmo.É um lugar na mente onde a reflexão impõe os limites que imperam a conduta. Porém, basta não conhecer as próprias fraquezas para se tornar escravo dos apetites que possui. E, o  que difere o homem dos outros animais é a sua capacidade de pensar para agir, de modo que aquele que se conduz pelos seus instintos e inclinações, aproxima-se do mundo animal, mas aquele que age pela via da razão aproxima-se de sua destinação moral.Ao se entender a felicidade como acúmulo de desejos saciados, o homem tende a priorizar a busca pelos prazeres dos sentidos e das vaidades, sem perceber que quanto mais se sacia um prazer biológico ou vaidoso, mais extravagantes e intensos estes prazeres exigirão satisfação.A fase da vontade surge, frequentemente, quando os excessos decorrentes da saciação dos apetites resulta em adoecimento físico e/ou psicológico. Observando o comportamento humano na sociedade atual percebemos que a maioria necessita do sofrimento para compreender que a saciação de desejos não representa um estado real de felicidade ao longo do tempo. É o sentimento de total insatisfação que tende a levar o homem à busca e compreensão de si mesmo. Liberto da prisão de apetites que o fazem sofrer, ele então livre se vê para buscar o aprendizado virtuoso fundamentado na razão.Razão inclinada ao aprendizado ético-moral produz, como consequencia, equilíbrio e serenidade; e, num mundo caótico, caracterizado pela competição em busca de euforia e satisfação de apetites perturbadores, não seriam o equilíbrio e a serenidade a própria felicidade?!

Reflitamos!

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