O
QUE É SABER LER NA SOCIEDADE DO CONHECIMENTO?
Texto de Jayme T. Filho
·
Qual a importância
do ato de ler nos dias atuais?
·
Qual o valor que o “saber ler” agrega na nossa vida pessoal e
profissional?
·
O que é “saber ler”
na "sociedade do conhecimento"?
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Seremos ainda
capazes de "ler" , quando textos são cada vez mais
"hipertextos" e os contextos cada vez mais globalizados?
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Enfim, numa era cada
vez mais de imagens, ainda faz sentido ler?
Essas questões estão presentes na ideia de
"sociedade do conhecimento".
A ONU emprega um conceito de "analfabetismo" que vem ao
encontro dessas questões.O "iletrado" (ou analfabeto) não é aquele
que simplesmente não sabe ler e escrever,mas sim, aquele que não domina a sua linguagem, o seu
idioma, o suficiente para:
1.
ler os manuais de funcionamento das ferramentas de seu
ofício, e entender suas instruções e ,assim poder atuar como trabalhador
produtivo.
2.
entender seus direitos
e deveres na sociedade em que vive, e viver como cidadão.
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Nessa visão, o "saber ler" na sociedade do
conhecimento em que vivemos é poder se posicionar no mercado de
"trabalhadores do conhecimento" e garantir conscientemente seus
direitos políticos numa sociedade interconectada. O acesso a esse mercado de trabalho e a essa rede de relações
já é em si um problema, principalmente nos países periféricos. Mas a decifração
dos conteúdos que fluem nessa rede global passa pelo domínio de uma nova
linguagem (não apenas o Português ou o Inglês), instrumentada por novas
ferramentas (que não mais só a do lápis e papel) e construída com novas
técnicas (já de hipertexto, e não mais apenas do fraseado linear).
Adilson Citelli in: (O Texto Argumentativo, São Paulo:
Editora Scipione, 1994) defende que as palavras se tornam ações com objetivos
práticos. A linguagem assim seria uma forma de ação.Para Cittelli, em
sociedades abertas , em regimes não-ditatoriais, a luta entre interesses de
diferentes indivíduos, grupos e classes se dá também pelo uso da linguagem
argumentativa. Daí podermos depreender que saber perguntar e saber argumentar
ajudam, em certo nível, a defender os próprios interesses, a própria cidadania.
Os discursos, os argumentos e as respostas podem igualmente esclarecer ou
confundir, explicar ou mascarar, libertar ou oprimir.
Será ainda verdade que dominar a linguagem é dominar o
mundo?
Num artigo apresentado no Congresso Brasileiro de
Leitura, em 1981, Paulo Freire defendia a importância da compreensão crítica do
ato de ler, que para ele não se esgota na decodificação pura da palavra
escrita, "mas que se antecipa e se alonga na inteligência do mundo"
(A Importância do Ato de Ler, São Paulo: Editora Cortez, 1999, 38a. edição).
Para Freire, a leitura do mundo precede a leitura da palavra, e por isso a
leitura da palavra não pode prescindir da contínua leitura do mundo. Para
"saber ler" é preciso então perceber as relações entre texto e
contexto.
Mas, quando é mesmo que desenvolvemos esse "saber
ler"?
Em "O
Desaparecimento da Infância" (Rio de Janeiro: Graphia, 1999), Neil Postman
mostra que a infância, da forma como a conhecemos, não existiu sempre e talvez
esteja desaparecendo. O lugar no tempo de vida reservado ao aprendizado da
complexa simbologia necessária ao entendimento do mundo - a infância - está
sendo substituído, reduzido, tornado obsoleto. A cada geração, ou menos, as
crianças dominam mais cedo os códigos dos adultos. Se antes eram necessários
vários anos de "educação" para dar acesso a uma pessoa ao acervo
cultural da sociedade, hoje esse acervo é cada vez mais acessível - em várias
formas simplificadas, mediadas, "hiperlinkadas" - às pessoas em
idades cada vez mais precoces.Postman não está sozinho em chamar a atenção para
os impactos da mídia na educação e das transformações sociais que vem
provocando.
Giovanni Sartori
(Homo Videns: Televisão e Pós-pensamento, Lisboa: Terramar, 1999) argumenta que
estamos imersos em um universo multimídia - televisão, Internet, etc. -
caracterizado pelo "telever" e pelo "videoviver".
Para Sartori,
estamos nos transformando de Homo Sapiens, produto da cultura escrita, em Homo
Videns, num mundo em que a palavra é destronada pela imagem.
E mais: a
"videocriança" está sendo criada pelo telever, à frente da TV ou do
PC, ainda antes de saber ler e escrever.
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